O objetivo da PsicoSíntese, utilizando recursos de uma PsicoSintaxe, é auxiliar no entendimento dos distúrbios psicóticos, através de um paralelo entre a estrutura sintáxica do enunciado (Sujeito do Enunciado, da frase, e Predicado), e a estrutura psíquica do indivíduo (Sujeito da Enunciação).
A ligação entre o sujeito que fala e a sua própria fala, está bem explícita em Freud e Lacan. Lacan situa o lugar do sujeito: lá onde isso estava, lá, como sujeito, devo [eu] advir. Ao incluir o objeto da falta como determinante do sujeito, o cogito Cartesiano só tem sentido na medida que se vincula à fala, à linguagem. O sujeito sobre o qual Lacan opera no campo da psicanálise é o sujeito dividido, apreendido na estrutura da linguagem. Lacan aí se refere ao sujeito da enunciação.
Entretanto, a abordagem da PsicoSintaxe vai além (ou aquém), ao propor um paralelo indissociável entre o sujeito da enunciação e o sujeito do enunciado, qual seja, o sujeito gramatical. Assim, não é somente “o objeto da falta que determina o sujeito”, mas sim, o próprio objeto, o qual se situa no Predicado.
Antes de desenvolvermos esse tema, é mais do que oportuno uma breve revisão de alguns conceitos básicos da gramática tradicional.
A abordagem da PsicoSintaxe vai além (ou aquém), ao propor um paralelo indissociável entre o sujeito da enunciação e o sujeito do enunciado. Assim, não é somente “o objeto da falta que determina o sujeito”, é o próprio objeto, o qual se situa no predicado”,
A Sintaxe é a parte da gramática que estuda a “disposição das palavras na frase e a das frases no discurso, bem como a relação lógica das frases entre si”. Ao emitir uma mensagem verbal, o emissor procura transmitir um significado completo e compreensível, ou seja, a frase tem um sentido.
Para tratarmos da PsicoSintaxe, chamaremos o emissor da frase de Sujeito da Enunciação, para diferenciar do Sujeito do Enunciado (Sj da figura V.1), que é um dos dois termos essenciais da oração (o outro é o Predicado). A psicosintaxe vai então lidar com o esse “sujeito” que fala, ou quer falar, e de como ele lida com o predicado falado.
O Sujeito do Enunciado é o ser ou a coisa ao qual se atribui a idéia contida no predicado. O Predicado é tudo aquilo que se atribui a esse sujeito, sendo composto por até dois núcleos, um verbal e outro nominal. O núcleo verbal pode estar explícito (“a menina É bonita”) ou oculto (“menina bonita”). O núcleo nominal, pode ser apenas um nome (bonita) ou uma expressão de valor nominal, por exemplo, “a menina ganhou uma boneca nova”. Já na frase “a menina dança” o verbo intransitivo basta para dar sentido à frase.
Tipos de Sujeito Gramatical (do enunciado)
A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) considera apenas os três primeiros tipos de sujeitos:
a) Simples: quando existe apenas um núcleo (“a casa é bonita”) | ||
b) Composto: com dois núcleos (“a casa e o carro são bonitos”) | ||
c) Indeterminado: quando a identidade do sujeito é desconhecida (“roubaram minha carteira”, quer dizer que alguém roubou minha carteira; “precisa-se de empregados”, significa que alguém ou uma empresa precisa de empregados). | ||
d) Oculto (também chamado de desinencial, implícito, ou elíptico): Sujeito desinencial é aquele que não vem expresso na oração, mas pode ser facilmente identificado pela desinência do verbo: “fechei a porta” = “(Eu) fechei a porta”). A desinência Eu está claramente identificando o sujeito. |
A NGB considera ainda o que chama de Orações sem sujeito, aquelas cujo verbo é impessoal. Verbo impessoal seria o que, não tendo sujeito explícitável, só se usa na 3ª pessoa do singular:
Haver – quando sinônimo de existir, acontecer, realizar ou fazer (“havia poucos ingressos à venda”; “Houve duas guerras mundiais”). | |
Fazer, Ser e Estar – quando indicam tempo (“estava frio naquele dia”, “faz invernos rigorosos no Sul do Brasil”) |
Ora, não podemos concordar com essa (des)classificação desoportuna. Examinando em detalhe a frase “faz invernos rigorosos no Sul do Brasil”, ao aplicarmos um recurso de normatização, fica claro que existe um sujeito – “Sul do Brasil”. Por exemplo: “O Sul do Brasil comporta invernos rigorosos”, onde o termo “comporta” substitui o termo “faz”, e a expressão de valor nominal “invernos rigorosos” complementa o predicado.
A figura IV.1 ilustra o diagrama fundamental da PsicoSintaxe. Na cor azul, o conjunto Sujeito (Sj) intersecciona o conjunto Predicado (Pd) no campo comum aos dois conjuntos – a FRASE (elípse vermelha). A Frase só tem sentido porque é constituida de um Sujeito e de um Predicado. Por exemplo, um falante ao expressar o termo casa, fora de qualque contexto, expressa algo sem sentido. Dizemos “fora de qualquer contexto”, pois se ele aponta com o dedo para uma casa, então ele está falando com sentido. Da mesma forma, ao dizer “bonita”, também fora de qualquer contexto, o adjetivo não está adjetivando nada, pois precisa de um “sujeito” para construir uma significação. Até aquí, temos um exemplo banal da sintaxe tradicional.
O que vai construir uma PsicoSintaxe é a proposta, explicitada no diagrama, onde a FRASE sintáxica e o EGO, compartilham de um mesmo campo, o qual passa também a ser o resultado da intersecção do conjunto Consciente (Cs) com o Inconsciente (Ics).
O diagrama pode ser transliterado e condensado pela fórmula:
o EGO = a FRASE
Consequentemente, ficam impostas duas correlações bíunivocas: entre o Sujeito Gramatical e o Consciente (Cs) do Sujeito da Enunciação(Sj) e, entre o Predicado (gramatical) e o Inconsciente (Ics), este último termo sendo o lugar freudiano e lacaniano do desejo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Como Anônimo, você pode escrever seu nome após o comentário, seu email, etc.